23 abril 2011

Sol em mim


E então a luz se fez!
Dentro do meu peito,
da minha mente...
E iluminou todos os recantos.

A semente da alegria,
que encontrava-se inativa,
seca,
quase morta,
fez-se brotar.

Germinou triunfante,
forte.
Determinada a crescer
e crescer,
sem parar.

E tudo ficou tão claro.
E tudo virou música.
No dia que me permiti ser,
me descobri sol.

Vontade de vazio




Gostaria
apenas
de experimentar o nada.
O oco.
Por um momento.
Esvaziar.

Ser invadida por uma frieza,
uma ausência completa
de mim.
de consciência.
Me deixar levar por isso
com um sorriso cínico
no canto da boca.

Mas, no meu peito bate um coração.
Corre sangue quente nas minhas veias.
E a mente não pára.
Ela critica,
acusa,
avisa.

E o não sentir,
o oco,
o nada...
nunca!

Restando o peito apertado,
sufocado.
O estômago embrulhado
e uma boca seca e amarga,
num suspiro infinito...
Que tenta amansar a cabeça
e o coração.

Esquecer a vontade impossível
de fogo querendo ser gelo...
e de ser pedra
minha alma.

Anne Caroline (Natal, 17/04/2011)

Pequenas ilhas



A vida gosta de lembrar,
sempre que pode,
que nascemos e morreremos sozinhos.

E não importa quantos amigos, filhos, irmãos e amores você tenha ao seu lado.
Nem mesmo uma multidão de anônimos.
Uma ilha é sempre uma ilha,
E não faz diferença quantas outras existam ao seu redor.

Mas, afirmo,
sem melancolia,
que só nos tornamos verdadeiramente completos
quando descobrimos de qual matéria somos feitos.
Pois é isso que nos difere e aproxima.
Como pequenos arquipélagos.

Anne Caroline (11/01/2011 - Santiago | Chile)

21 abril 2011

Todo dia é dia...



Podem me chamar de insensível, de chata, de "do contra", do que quiserem, eu realmente não me importo...e não mudo minha opinião: Dia dos Namorados (e todas estas datas “comemorativas”), pra mim, não existem. Há anos foram abolidas do meu calendário. Entra ano e sai ano é a mesma coisa: as mesmas propagandas bregas, o mesmo apelo pseudo-romântico...é o fim!!! Quer dizer que o casal pode “quebrar o pau” o ano inteiro, contanto que não esqueçam de se presentear no “grande dia”? É isso? Tudo que não quero para minha vida é um relacionamento assim! Tudo que não quero pra mim é a mídia dizendo o que devo fazer e quando devo dar atenção a quem amo...Isto é realmente inconcebível!
Uso este mesmo raciocínio para outras datas similares...que, pra mim, só são comemorativas para o comércio mesmo. Tem coisa mais ridícula que aquele clima de solidariedade forçado de fim de ano? O cara cospe no mendigo o ano inteiro, aí - justamente na época natalina - começa a se achar o generoso (contagiado pelas músicas de reveillon da Globo), doa um pacote de feijão, uma calça furada, e passa a achar que o mundo melhorou...tenha dó!
Outro exemplo clássico é o daquela pessoa que não se importa realmente com você, mas que no dia do seu aniversário passa um “scrap” ou uma mensagem pro seu celular, se achando o maior amigão, dizendo que você é especial e essas baboseiras todas...Do que vale tudo isso? Você realmente se acha especial assim?
A verdade é clara, não adianta mascarar. E eu quero apenas o verdadeiro, não aceito embuste. Quanto ao meu “timing”, só acredito mesmo no HOJE. E é hoje que dou valor ao ser humano, à vida, a quem amo. É hoje que não jogo lixo no chão, é hoje que respeito às pessoas (inclusive as menos favorecidas), que não maltrato animais... e é hoje que dou valor a quem amo. Gosto da espontaneidade, de dizer “eu te amo” de repente (nem sempre com palavras), sem ter que esperar o “Dia do Amigo”, o “Dia dos Pais”, o aniversário, o Natal, ou o dia que for!!!! Amo-os e respeito-os todos os dias. E presenteio sempre que posso, com um abraço, uma mensagem, um telefonema, um carinho, um ombro e um ouvido disponível...que vale mais que mil presentes, ao meu ver. Sem falsas palavras ou sorrisos, e principalmente sem data marcada.

Texto publicado em 09/06/2005 e postado no meu antigo blog, http://comediadiaria.zip.net/ (o primeiro sobre datas comemorativas).

Tudo que preciso



Escrita em 14/07/2005, no meu antigo blog www.comediadiaria.zip.net

Na verdade, não tenho grandes ambições na vida. Já tive maiores, mais inacessíveis. Mas não hoje. As atuais são simples, quase risíveis por alguns. Me contento com o mínimo de dinheiro. Com alguns poucos luxos, como TV fechada e Internet banda larga. Uma saída vez ou outra. Uma boa viagem nas férias, que pode ser até pelo interior mesmo.
Como patrimônio, também o básico: uma casa confortável, que nem precisa ser na cidade, com um jardim, uma garagem e um quintal, onde eu possa ter uma horta e criar um cachorro. Nada demais.
Minhas maiores ambições no passado diziam respeito ao lado profissional. Queria ser importante no que eu fizesse. Quase insubstituível. Mas hoje, me basta fazer algo prazeroso, onde possa ganhar o suficiente para pagar minhas contas e sobrar um troco.
No mais, boas companhias, um bom vinho tinto seco, uma boa comida (com pouca gordura, porque estou de dieta!), uma boa música, um papo agradável, um bom livro, um bom filme, coração cheio e o filho saudável são o suficiente para fazer a minha vida perfeita. O resto é ilusão.

Big-bang particular



Eu não quero ser o outro.
Seu espelho. Seu mundo projetado.
Nem mesmo quero fazer parte de um futuro do qual sei que não pertenço.
Sinto mesmo é a vontade infinita de ser.
Eu, em plenitude. Sem enganos.
Pois às vezes não passo de um feio auto-arremedo.
Uma sombra no canto da sala. Do quarto.
Seja por conveniência, preguiça, medo, cansaço ou pura acomodação.
Mas, sou mais! Bem mais que pareço.
Tanto que em mim mesma não caibo.
O universo inteiro espremido em um corpo delgado, a ponto de explodir.
Big-bang particular.
Meu gênesis.
Um grão a ponto de germinar.
A espera de uma gota de chuva.
Ou da fagulha de um casual raio de sol.

Anne Caroline (Natal, 17/04/2011)

Compreensão silenciosa



Minha sintonia pode ser medida.
Pelo tamanho do meu conforto
(ou desconforto)
diante do silêncio mais profundo do outro.

Pois você pode dizer todas as palavras por horas incontáveis,
gritar...
Mas nada é mais perfeito
e insubstituível
que a comunicação silenciosa entre dois olhares.


Anne Caroline (Natal, 19/12/2010)

Elizabeth


(Texto produzido em homenagem à minha mãe)

07/11/2010

Meu peito é um quarto vazio. Cheio de ecos sombrios e gavetas de lembranças, onde tento organizar - no caos da sua partida - aquilo o que sobrou.

Remendo com cuidado os cacos de boas memórias, jogo fora as mágoas de toda uma vida ( que há muito destroçavam a mobília com seu peso), lustro momentos que, antes irritantes, passaram a ser engraçados.

E entre risos, lágrimas e murmúrios no escuro de noites insones, preparo seu altar de rainha.