04 janeiro 2010

Feliz dia novo

Gostaria de ser menos cética, sem consciência e tatear, como cega, por um caminho já traçado, que promete felicidade fácil. Mas, não consigo. Não que eu seja diferente, especial, coisa nenhuma, mas é impossivel ignorar o "sórdido ululante", sobretudo no final de cada ano. Não mandei cartão de natal, mensagens de bom ano (no máximo respondi, para não parecer mal-educada), nem presenteei ninguém, simplesmente porque acho tudo isso uma farsa, do começo ao fim. Um clima maldosamente disfarçado de “paz na terra” e “esperança no futuro”, criado com duas funções: fazer você gastar o que não tem (e passar o ano endividado) e encobrir a absoluta falta de sentido e comodismo da humanidade, pois precisamos de simbolismos para não morrer de tédio e desculpas esfarrapadas para “esperar” por dias melhores. Então, inventamos datas comemorativas que nos dão cartão verde para sermos hipócritas, comermos exageradamente e bebermos até esquecer a mediocridade das nossas vidas vazias e idiotas. O resultado é que natal nenhum na minha existência me tornou uma pessoa melhor, assim como o ano-novo não me trouxe nada de novo, nem trará para você também, acredite.

Não é um novo calendário de supermercado ou a crendice de pular sete ondinhas no ultimo dia do ano, nem mesmo os pedidos a Deus ou Iemanjá que vão fazer você emagrecer, arrumar um emprego melhor, ser uma nova pessoa. Nada. A recompensa é fruto de um trabalho diário. E é o hoje - e não a segunda-feira, o próximo mês, o próximo ano, a nova década - que faz a diferença real. É o que fazemos diariamente que importa. Isso, sim, tem o poder de transformar. Somente com persistência e suor é que podemos emagrecer (mudando os hábitos alimentares, abdicando uma torta de chocolate por frutas), ganhar mais dinheiro (trabalhando com afinco), comprar uma casa/carro/viajar (economizando, ao invés de estourar o cartão de crédito), passar em concursos (estudando, enquanto todos estão se divertindo), ter mais saúde (vencendo a preguiça e se exercitando diariamente), encontrar mais tempo para os amigos e a família (se esforçando, ao invés de ficar arrumando uma desculpa qualquer), ter um novo amor (se abrindo para a vida, deixando o passado para trás e assumindo o risco) e tudo mais que você queira. Efeitos que só serão possíveis através das causas (“causadas” exclusivamente por você, e não pela força do destino, bênçãos do divino ou golpe de sorte).

É chato e cansativo mudar. Um caminho para poucos, pois é preciso ter coragem para pagar o preço e assumir o comando da própria vida. E o valor é alto, pois você não terá (externamente) a quem culpar e a dúvida na sua capacidade de realização será uma constante. Mas se persistir ficará orgulhoso com o resultado, recuperando a fé em si mesmo. E então a transformação será real e não mais uma promessa renovada ano após ano, anotada na primeira pagina do calendário que ganhou de um “amigo-secreto”, nem tão amigo assim. Pois, apesar das dificuldades, o novo é possível, sim, e virá para todos os que estiverem dispostos a abandonar o auto-engano e descobrir que, para chegar ao final da jornada tão sonhada de felicidade e realizações, é preciso levantar e caminhar. Dia após dia.

Anne Caroline Medeiros – 03.01.10