21 julho 2007

Reencontrando (-se)



Hoje, mexendo em velhos disquetes, encontrei dois textos que amo, mas que achei que tinha perdido definitivamente. E que belo reencontro...foi como achar pedaços de mim, esquecidos pelo tempo...

O Belo e o Feio


A beleza é um momento. Um sopro. Um estado de espírito. De pureza. De graça.
A feiura, por sua vez, é simplesmente a falta de percepção da beleza. E há beleza e feiura em tudo a nossa volta...
Podemos achar beleza na simplicidade de um olhar, de um gesto. No cotidiano, no banal, no tédio. Podemos achar bela a escuridão, com seus tons cinzas e assustadores, que traz consigo o medo, a morte...e a beleza está em todas elas. Em toda parte.
Não há regra para a beleza. Ela apenas é. Nada mais. Bela é a miséria na lente de um bom fotógrafo. Belos são os vitrais de uma imponente igreja secular aos olhos de um ateu. Belo é o céu em dias de tempestade para quem possui esperança no amanhã. Bela a dor, a fúria e o desespero para quem tem fé. E belo é o feio aos olhos de quem ama...
Mas, de repente, uma nuvem negra nos cobre os olhos, a mente e o coração. Ficamos amargos. E tudo deixa de ter um significado. Banalizamos a essência das coisas e começamos desprezar até mesmo o sorriso de uma criança. Ficamos vazios para o mundo e ele nos retribui, negando a beleza de seus pequenos milagres. E tudo se perde. Tudo deixa de ser.
Mas o tempo passa. Cura. E o feio cansa de ser o que é. Fica saudoso. E logo está entoando a melodia de sempre, fazendo as pazes com Afrodite. Simples assim.
Não há mistério ou segredos invioláveis. A beleza dispensa artifícios ou livros de auto-ajuda para ser desvendada, apreciada. A verdadeira beleza está dentro de cada um de nós, na imperfeição, nos pequenos gestos, no ato de comer de um faminto, nas cores, na simplicidade do dormir e do acordar, nas formas, texturas, gostos, no erro... esperando, pacientemente, o momento certo de desabrochar.

Anne Caroline JAN/99

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A HISTÓRIA DO GIGANTE TORTO


Há muito essa história não é segredo: filho bastardo de uma senhora poderosa, dizem que foi maltratado e explorado, sem dó, desde seu nascimento. Até que um dia cansou-se de sua condição, revoltou-se contra seus pais/carrascos e conseguiu libertar-se. Desde então, o gigante menino tentou, sozinho, aprender a andar e acertar seu caminho, seguindo a ermo pela vida.
Hoje já não é tão menino assim e, mesmo carente, está cada vez mais forte. Mas, apesar de ter, após muito esforço, aprendido a andar, dizem que ainda não conseguiu achar seu caminho.
É rico. Dono incontestável de uma vasta extensão de terras privilegiadas - que se plantando tudo dá - além de possuir um céu risonho e límpido, mares de águas claras, belas florestas, pantanais e misteriosos desertos.
Mesmo com tantas maravilhas e riquezas, o gigante às vezes cobre-se de vergonha por seus atos de mesquinhez e miséria. Carente de ordem e progresso, seu céu, sempre azul, torna-se negro e troveja, para depois aparecer com um arco-íris de todas as cores (Sapucaí). E suas estrelas voltam então a gingar ao som de uma música pagã (abençoada por Deus), como se o céu nunca tivesse trovejado.
Outras vezes, semi-deuses descem dos céus e brincam, como crianças, nos campos verdes. Enchendo o paraíso multicolorido de uma alegria redonda, fazendo o gigante esquecer todos os males de sua terra.
Esse gigante imperfeito tem nome masculino, mas é idolatrado e amado como uma mãe gentil. Ele tem vários rostos, várias cores e personalidades. Milhões. É misto e contraditório. Miscigenado em sua alma, gestos e formas. Possui uma cultura única e uma linguagem farta, Ímpar com seus folguedos, músicas, lendas, ritos, mitos e sabenças.
Escolhido entre outros mil, salve esse ser adormecido. Salve esse colosso de tantas qualidades desconhecidas por si mesmo. Gigante torto, teu nome é Brasil.

Nov/1998

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3 Comentários:

Às 3:34 PM , Blogger antes da chuva disse...

hallo, querida,
agora q liquei seu bloco, é só um clique para te ler.

beijos,
Elis

 
Às 3:59 PM , Blogger antes da chuva disse...

e neste final dos anos 90 estávamos na faculdade. tudo dourado a nossa volta, pés na relva lendo a edição de whitman da querida biblioteca Zila Mamede. Cabeça livre para provar o mundo e dizer: faço parte dele.

 
Às 4:01 PM , Blogger antes da chuva disse...

errata: a palavra é linquei.

Elis

 

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